Política

CPI da Covid ao vivo: sócio da Belcher Farmacêutica presta depoimento

Emanuel Catori explica negociações sobre a vacina da CanSino e relações com pessoas do núcleo próximo ao governo federal, como Carlos Wizard, Luciano Hang e Ricardo Barros

A CPI da Pandemia ouve agora o empresário Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica. O depoente comparece ao Senado Federal nesta terça-feira (24) na condição de convocado e deverá explicar mais detalhes sobre intenções de compra envolvendo o imunizante Convidecia, do laboratório chinês CanSino.

Logo na declaração inicial aos senadores, Catori afirmou que a Belcher não fechou nenhum contrato com o Ministério da Saúde, mas firmou apenas uma carta de intenções, na qual foi aventada a possibilidade do Brasil adquirir 60 milhões de doses do imunizante.

Catori também negou o envolvimento dos empresários Luciano Hang, Carlos Wizard e do parlamentar Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, nas tratativas da vacina. Ele rejeitou a hipótese de que teria obtido um “facilitador político” no processo.

A vacina da CanSino tornou-se alvo da CPI devido ao processo de negociação com o governo federal assemelhar-se ao caso da vacina indiana Covaxin: houve uma empresa intermediária e um preço mais alto por uma dose, de US$ 17 – até então o maior dentre todas as vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde.

No processo, a Belcher era a empresa intermediária responsável pelas negociações no Brasil. No entanto, no dia 17 de junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu um comunicado da CanSino informando sobre o descredenciamento da empresa para o imunizante.

A Belcher também foi uma das empresas citadas na Operação Falso Negativo, do Ministério Público do Distrito Federal, que apurou o superfaturamento dos produtos, principalmente testes de Covid-19, adquiridos pela Secretaria de Saúde do DF.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu a Emanuel Catori o direito de ficar em silêncio e de não produzir provas contra si mesmo. O empresário poderá contar com o auxílio de seu advogado, com quem poderá conversar de forma reservada. Ele também não poderá ser submetido à prisão por conta do exercício de seu direito de defesa.

Na volta do intervalo da CPI, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) recebeu a palavra para questionar Emanuel Catori.

Girão pediu que o empresário confirmasse o valor de US$ 17 por dose, o que faria do imunizante da CanSino contra Covid-19 o mais caro adquirido pelo Ministério da Saúde.

“[Confirmo o valor de US$ 17] no valor que a gente ofereceu ao Ministério da Saúde, sim. Uma dose, somente”, disse Catori, que se permaneceu em silêncio ao ser perguntado sobre a margem de lucro nessa transação.

Ele disse, ainda, que o contrato não envolveria o repasse de nenhum tipo de comissionamento para intermediários. E que as quantidades contratadas e as forma de pagamento dependiam da carta de intenções para dar andamento nas negociações.

“A proposta inicial era de 60 milhões [de doses]”, reforçou.

Na sessão, o senador vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), trouxe um trecho de uma reportagem do jornal Valor Econômico onde o vice-presidente de Negócios Internacionais da farmacêutica chinesa CanSino, Pierre Morgon, alega que a Belcher Farmecêutica negociou uma comissão a depender do número de doses do imunizante.

O senador destacou que os valores exigidos pela farmacêutica, de acordo com declaração de Morgon, eram muito maiores do que a própria CanSino poderia pagar. Catori, por sua vez, confirmou que ganharia comissão, mas não quis comentar as cifras.

“Eu só não gostaria de falar os valores que estaríamos negociando, por isso solicitei meu direito de silêncio. Como empresas privadas, e nós como representantes oficiais, claramente estaria ganhando um valor, não trabalharia de graça. Só não quero entrar em detalhes de valores”, afirmou o sócio da Belcher.

O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a dizer que “há uma semelhança com o caso do Dominghetti por conta da cobrança de comissão por dose de vacina”, referindo-se ao cabo da Polícia Militar Luis Paulo Dominghetti que tentou vender vacinas que supostamente não existiam ao Ministério da Saúde.

“A matéria [citada por Randolfe] ressalta o fato anteriormente perguntado em relação a remuneração, onde o depoente disse que não houve tratativa a respeito. Mostra, sem dúvidas, uma contradição do depoimento”, concluiu Calheiros.

Em resposta, Catori disse que apenas afirmou “não querer tratar de valores aqui” e que “ficou em silêncio”. “Mas por óbvio a minha empresa ganharia uma comissão”, contou.

O sócio da Belcher Farmacêutica respondeu a questionamentos sobre os contratos da empresa no Distrito Federal, já que foi citada na Operação Falso Negativo, do Ministério Público do DF.

Catori afirmou que fechou um contrato a respeito de máscaras com a Secretaria de Saúde do DF, e que não participou de licitações envolvendo testes para Covid-19, um dos alvos da Operação. Questionado sobre as denúncia do MP, Catori reservou-se ao silêncio.

O empresário também negou que outra empresa tenha utilizado inapropriadamente o nome da Belcher em contratos firmados no DF.

Emanuel Catori negou que os empresários Luciano Hang, seu sobrinho, Alan Eccel, e Carlos Wizard tenham tido algum envolvimento na negociação da vacina da CanSino.

O sócio da Belcher também negou que Eccel, de quem afirmou ser “amigo cordial”, estivesse presente na reunião do dia 15 de abril de 2021 com o ministro Marcelo Queiroga e com Ricardo Barros (PP-PR).

“Nunca falamos da vacina Convidecia com empresários”, ressaltou. As únicas tratativas com ambos se deram no âmbito do intuito de doação de doses de vacina que o alegado grupo de empresários que eles integravam queria realizar.

 

FONTE: CNN BRASIL

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/cpi-da-pandemia-ao-vivo-dono-da-belcher-farmaceutica-presta-depoimento/

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