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Fome e má alimentação na pandemia vão ter impacto nas gerações futuras, dizem pesquisadores

Brasileiros pobres buscam alimentos mais baratos, que têm menores valores nutricionais. A fome e a má alimentação podem gerar sérios problemas de saúde e desenvolvimento em crianças e adultos.

Pesquisadores que têm acompanhado de perto os desdobramentos sociais da pandemia estão convencidos de um outro problema: a dificuldade de milhões de brasileiros de se alimentar de maneira saudável vai ter impacto nas próximas gerações.

Raquel Cristina Rodrigues está desempregada e chora ao falar sobre a alimentação da família. Ela não tem conseguido colocar proteína na mesa e a qualidade dos alimentos diminuiu.

“Sim, muito. Arroz, feijão eu comprava direto, hoje eu não consigo. A fome bate à porta todos os dias”.

Falta dinheiro para comprar comida para mais da metade dos brasileiros pobres. Com poucas panelas nos fogões e as geladeiras vazias, quando vão aos mercados, muitos buscam alimentos mais baratos, que têm menores valores nutricionais. A fome e a má alimentação podem gerar sérios problemas de saúde e desenvolvimento em crianças e adultos.

“As crianças têm um período de crescimento acelerado em que precisam de determinados nutrientes e de determinado aporte energético. Se elas não têm isso por um curto espaço de tempo, isso vai impactar no peso dela. Isso às vezes gera problemas escolares, atraso no desenvolvimento. Nos adultos, mesmo que eles não precisem de energia para crescer, tem prejuízo no sistema imunológico, na forma como se enfrentam doenças. É um país que, para se recuperar, vai demorar muito mais tempo do que se nós tivéssemos investido em ter condições mínimas de qualidade de vida mesmo numa crise como esta da pandemia”, disse Elisabetta Recine, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade de Brasília.

Vânia Gonçalves dos Santos tem uma renda de R$ 400 para alimentar nove bocas, entre filhos que estão desempregados e netos. Em Mesquita, na Região Metropolitana do Rio, ela vive uma insegurança que dói no estômago. Quando a família acorda não tem a garantia de que vai se alimentar ao longo do dia. Ela conta como é a alimentação ao longo do mês.

“Salsicha, porque é mais barata e dá para todo mundo, porque é muita gente aqui em casa. Uma farofa, uma farofa sem nada dentro. Farofa com a pele da galinha. Daqui a pouquinho, daqui a duas horas de relógio a pessoa já está com fome de novo”.

De acordo com a Unicef, quase 50% dos brasileiros mudaram os hábitos alimentares durante a pandemia e para pior. O representante das Nações Unidas para a Alimentação, Rafael Zavala, diz que é preciso fazer um esforço para se produzir alimentos de qualidade mais baratos:

“Assegurar que os produtores, por um lado, recebam um preço adequado pelos alimentos que produzem, mas também que esse preço não seja tão elevado que impeça as pessoas de comprar”.

Enquanto isso, Domingos Fernandes, que está desempregado e mora com mais cinco pessoas, vai se virando como pode.

“Eu vou fazer feijão e arroz e deram uma salsichazinha. Vou tentar refogar para poder botar para eles comerem. O feijão está um pouco mais ralinho, inclusive, é o último feijão que nós ganhamos um pouco. Eu faço ele render acrescentando água e esquentando ele”.

 

 

Fonte: G1

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/04/16/fome-e-ma-alimentacao-na-pandemia-vao-ter-impacto-nas-geracoes-futuras-dizem-pesquisadores.ghtml

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