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Anvisa pede, pela 3ª vez, mais informações sobre ButanVac para liberar testes em humanos

Governador João Doria (PSDB) disse nesta sexta-feira (14) que ‘essa deveria ser uma aposta e um senso de urgência também por parte da Anvisa’. Mesmo sem liberação, Butantan diz que vai terminar de produzir os primeiros 6 milhões de doses até o final da próxima semana.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pediu na quinta-feira (13) ao Butantan mais informações sobre a ButanVac, candidata a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo instituto, antes de liberar os testes clínicos em humanos.

A informação foi compartilhada por Dimas Covas, diretor do centro de pesquisas, na manhã desta sexta-feira (14), quando entregou mais um lote da CoronaVac ao Ministério da Saúde e suspendeu a produção da vacina por falta de matéria-prima.

“Ontem, nós recebemos mais questionamentos da Anvisa, mais 15 questões. Já estamos trabalhando e vamos responder a esses questionamentos o mais rápido possível pra que a gente possa iniciar os estudos clínicos com essa vacina. É essa vacina que vai nos trazer independência total no segundo semestre. Nós temos uma grande capacidade de produção e poderemos ajudar muito o país com essa vacina, que não dependerá da importação de matéria-prima”, disse Covas.

Questionada, a Anvisa informou ao G1 que não são questões novas, e sim as mesmas já apresentadas ao instituto anteriormente.

“O que tem ocorrido é um diálogo constante no sentido de orientar o processo e as informações que precisam estar esclarecidas para o prosseguimento da análise do pedido de autorização de estudo. A Anvisa e o Butantan tiveram reunião técnica na última semana. A agência está analisando materiais enviados enquanto outros aspectos do protocolo são resolvidos pelo Butantan”, esclareceu o órgão em nota.

A ButanVac, primeira vacina contra a Covid-19 produzida no Brasil sem que seja necessária a importação de matéria-prima, já foi testada em animais e o pedido de autorização se refere às fases 1 e 2 de testes da vacina.

Esta é a terceira vez em que a Anvisa pede mais informações ao Butantan sobre o imunizante. No dia 26 de março, dia do anúncio de seu desenvolvimento, o instituto fez o primeiro pedido de autorização à Anvisa para iniciar esses testes. De acordo com a agência, o pedido estava incompleto e, por isso, não atendia aos requisitos técnicos para a liberação.

Um mês depois, o centro de pesquisa protocolou outro pedido, mas a Anvisa novamente considerou que faltavam esclarecimentos. Desta vez, de acordo com a Anvisa, uma das pendências é a apresentação da última versão do protocolo clínico. (Leia mais abaixo quais eram as outras pendências.)

O governador João Doria (PSDB), que também participou da coletiva de imprensa desta sexta-feira, pediu urgência à Anvisa sobre a liberação dos testes clínicos.

“Essa deveria ser uma aposta e um senso de urgência também por parte da Anvisa, estabelecidos os seus critérios científicos e de análise, para liberar o mais rapidamente possível e para que nós possamos ter uma nova vacina produzida no Brasil para a imunização dos brasileiros”, reforçou o governador.

De acordo com Dimas Covas, os primeiros 6 milhões de doses estão em produção, mesmo sem a liberação dos testes clínicos, e devem estar disponíveis no final da próxima semana.

A expectativa é a de que um total de 18 milhões esteja pronto até junho, e um total de 40 milhões até o fim do ano, meta considerada irreal por alguns especialistas, uma vez que nem sequer foi testada em humanos até o momento.

Documentação em falta

Na última negativa da Anvisa, em 27 de abril, a agência solicitava:

●       Relatório técnico contendo dados e informações sobre a substância ativa, adjuvantes, interação ativo + adjuvante e produto terminado;

●       Relatório completo com as informações detalhadas sobre fabricantes, etapas de produção, definição de lotes, controle de qualidade, estabilidade, lotes utilizados até o momento e lotes a serem utilizados no estudo clínico;

●       Dados e informações sobre o processo produtivo da vacina;

●       Dados e informações sobre o controle de qualidade da vacina;

●       Avaliação de risco de geração de doença autoimune e necessidade de avaliar a geração de anticorpos anti DNA por conta de um dos adjuvantes utilizados na vacina;

●       Esclarecimento se os estudos com animais foram realizados com a mesma formulação que está sendo proposta para teste em seres humanos. Em caso negativo, apresentação de dados de comparabilidade físico-química entre as formulações da vacina;

●       Esclarecimento sobre o Protocolo Clínico e critérios para escolha de doses e inclusão dos voluntários;

●       Apresentação de objetivos primários de imunogenicidade e de segurança;

●       Cálculo do tamanho da amostra e métodos estatísticos utilizados.

Estimando-se que de cada ovo seja possível tirar duas doses da ButanVac, passarão pelo instituto 20 milhões de ovos para produzir as 40 milhões de doses prometidas pelo governo no próximo semestre – caso esse prazo seja de fato cumprido — Foto: Instituto Butantan

Como é a ButanVac

Os insumos básicos da vacina são ovos de galinha, frascos e embalagens, os mesmos usados para fazer a vacina da gripe. Estima-se que cada ovo tenha material suficiente para produzir duas doses de vacina.

Em cada ovo é injetada uma pequena quantidade do vírus da “doença de Newcastle”, um mal aviário que é inofensivo em humanos. Esse vírus foi geneticamente modificado para receber a estrutura do coronavírus e estimular a produção de anticorpos contra a Covid-19 no organismo humano.

A técnica, em tese, permitiria a produção de vacinas ainda mais eficazes contra as novas variantes do coronavírus, uma vez que se pode escolher de qual cepa será retirada a proteína do vírus.

O trabalho com os ovos também permitiria a independência de importação de insumos da Índia e da China, barateando e acelerando a produção de um imunizante.

Como agora já existem vacinas disponíveis e comprovadas contra a Covid-19, a ButanVac precisará ter sua eficácia testada em relação a esses imunizantes.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), já formalizou ao Instituto Butantan o interesse em adquirir 4 milhões de doses da ButanVac.

No mesmo dia em que a vacina foi anunciada, o Ministério da Ciência também pediu aprovação na Anvisa para testes clínicos de outra vacina nacional, chamada Versamune, em desenvolvimento com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

 

Fonte: G1

https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/14/anvisa-pede-pela-3a-vez-mais-informacoes-sobre-butanvac-para-liberar-testes-em-humanos.ghtml

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