Apesar de mastite, fissuras e falácias, psicóloga realiza sonho de amamentar o filho
“Será que seu leite é suficiente?”, “É só colocar no peito e pronto”. Estas foram algumas das frases que a psicóloga Roberta Albert ouviu quando tentava amamentar seu filho, na época recém-nascido, Francisco Albert, hoje com 3 anos e 9 meses. Os obstáculos foram muitos: ela teve mastite e fissuras nos seios e seu bebê apresentou peso de risco, muito abaixo da curva. A moradora do Catete chegou a pensar em desistir, mas continuou, e Chico mamou até os 3 anos e 2 meses.
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Estudar sobre os benefícios da amamentação foi um dos motivos que a encorajaram a prosseguir. O aumento da informação — boa parte fruto de campanhas anuais, como a Semana Mundial de Aleitamento Materno, iniciada nesta segunda-feira (1º); e o agosto dourado brasileiro — é apontado como um dos responsáveis pelos índices de amamentação estarem crescendo no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2006 e 2020 houve um acréscimo de 15 vezes na prevalência de aleitamento materno exclusivo entre as crianças menores de 4 meses, e de 8,6 vezes entre crianças menores de 6 meses.

Roberta conta que nunca pensou que amamentar seria fácil, mas não tinha ideia de que seria tão desafiador:
— Eu me blindei muito das falácias, mas uma parte sempre acaba nos atravessando de alguma forma. Já na apojadura (descida do leite), tive febre, muita indisposição e dor nas mamas. A dor das mastites e das feridas causadas em função da pega errada eram insuportáveis. Meu companheiro me ajudava com massagens para tentar desfazer os nódulos, e o laser aplicado pela nossa consultora trazia alívio, mas estávamos muito perto de formar um abcesso. Falávamos sobre parar. Até entender que a dor emocional de desistir, pois eu sonhei tanto com a amamentação, suplantava a dor da mastite — detalha.
Roberta chegou a fazer translactação, a recorrer ao copinho e à mamadeira, até chegar a fórmulas sem proteína do leite, por uma suspeita de alergia que não se confirmou. Contudo, aos poucos retornou ao aleitamento materno exclusivo. Atualmente, grávida de 7 meses de Teresa, ela se especializa em neuropsicologia e orientação parental.
Ana Jannuzzi, médica especialista em pediatria e moradora da Glória, explica que o leite materno é um alimento completo e vivo e que toda gota que sai do seio é suficiente para nutrir o bebê.
— A qualidade é sempre extremamente rica. O leite materno é abundante em gorduras, proteínas, vitaminas e minerais, e a produção dele recebe um feedback da boca da criança, o que faz com que o leite mude de acordo com a necessidade: quando a criança fica doente, por exemplo. Não existe qualquer outro alimento assim no mundo. A fórmula vem para substituir o leite materno em casos em que não se pode ou não se deseja amamentar, mas ela não tem essa capacidade — diz Ana.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que até os 6 meses o bebê deve ser alimentado somente com leite materno e que após essa idade deve ser dada alimentação complementar apropriada, mas a amamentação deve continuar até pelo menos o segundo ano de vida. Ana ressalta que quanto mais a criança mama, mais benefícios ela tem, e que esse fator de proteção se estende até a vida adulta.
— O desmame pode ser natural. Há sociedades que amamentam suas crianças durante seis, sete, oito anos. Com o aleitamento materno, elas terão menos chances de ter doenças alérgicas e cardiovasculares, hipertensão e obesidade, justamente porque tiveram uma alimentação equilibrada pelo menos nos seis primeiros meses de vida — defende a médica.
Fonte: O Globo