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Somente metade dos profissionais de saúde receberam treinamento para atuar na linha de frente da Covid-19, revela pesquisa

A pesquisa “A pandemia de COVID-19 e os profissionais de saúde pública no Brasil”, conduzida pela NEB FGV-EAESP, em parceria com a Fiocruz e com a Rede Covid-19 Humanidades, acendeu um alarme para a sociedade brasileira: somente metade dos profissionais de saúde pública receberam algum tipo de treinamento para atuar na linha de frente da Covid-19. Isso se dá em um cenário de pandemia, onde a categoria tem sido protagonista e trazido várias reflexões sobre a profissão e o papel das instituições.

Sabemos que muitas cidades tiveram que criar hospitais de campanha e abrir setores de atendimento a pacientes críticos, mas houve escassez de profissionais para utilizar esses recursos da forma correta. Em centenas de unidades hospitalares houve remanejamento de profissionais de saúde para área com atendimento exclusivo para pacientes com Covid-19. No entanto, faltou treinamento.

Se por um lado aumentou o número de contratações de enfermeiros, por outro revelou-se a escassez de especialistas nas duas principais áreas de fundamentais no combate a Covid-19: Urgência e Emergência e Terapia Intensiva. A especialização em urgência e emergência capacita o enfermeiro para a realização de um trabalho específico no atendimento pré-hospitalar do paciente, quando está em situação de emergência. Os enfermeiros intensivistas possuem uma atuação voltada para as intercorrências mais complexas da área, atendendo na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Adulto e Neonatal.

Para driblar as dificuldades, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a formatura antecipada de alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia, exclusivamente para atuação desses profissionais nas ações de combate ao novo Coronavírus. A situação de caos evidenciou a importância da capacitação de profissionais da saúde.

A Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), Mayra Pinheiro, declarou que “O Sistema Único de Saúde (SUS), não consegue oferecer tudo para todos e tem necessidades ilimitadas e recursos limitados. O ápice da crise sanitária revelou que a deficiência maior é de recursos humanos qualificados. Ou seja, profissionais preparados para garantir assistência de qualidade”. A SGTES é responsável por formular políticas públicas orientadoras da gestão, formação e qualificação dos trabalhadores e da regulação profissional na área da saúde no Brasil.

Em maio de 2020, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), preocupado com o aumento da demanda e sabendo que a enfermagem representa 50% da força de trabalho na saúde, fez algo inédito na história da autarquia e em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ofertou três cursos online gratuitos com vagas para 300 mil profissionais, alunos de graduação em Enfermagem a partir do 6º semestre e, também, aos estudantes dos cursos técnicos. Os certificados foram emitidos pelo Cofen e pela UFSC com validade nacional. Os cursos abordaram medidas de biossegurança atualizadas para o enfrentamento da Covid-19 e cuidados intensivos a pacientes críticos com a doença. Cada curso tem carga horária de 40 horas e são realizados por meio da plataforma EaD – Moodle da UFSC.

Praticamente todos os estados do País adotaram, em suas ações de acompanhamento e enfrentamento à pandemia, a capacitação de profissionais de saúde. Foram realizados treinamentos de habilidades, simulações realísticas, webconferências e divulgação de vídeos educativos. As principais estratégias adotadas foram a elaboração de fluxograma de paramentação/desparamentação; feitura de procedimento operacional padrão (POP) e oficinas realísticas que possibilitaram aquisição de habilidades práticas e seguras no uso dos EPI. Entretanto, a alta rotatividade desses profissionais, decorrente da precarização do vínculo e direitos trabalhistas, foi um desafio que ainda requer ampla discussão política, para maior valorização da enfermagem, que fortemente tem lutado nessa pandemia.

Outra grande reflexão é que a pandemia trouxe a necessidade e a oportunidade para capacitação, mas isso tem ocorrido sobretudo por meio de plataformas de educação a distância EaD. O Ensino a Distância, que foi duramente combatido pelo Conselho Federal de Enfermagem, em algumas modalidades, desperta preocupação sobre a qualidade dos futuros profissionais. A oferta de cursos profissionalizantes e pós-graduações em EaD ganharam força e vão precisar de fiscalização redobrada do MEC) para garantir que as práticas laboratoriais que o curso exige, sejam cumpridas na íntegra.

Flávio Liffeman
Jornalista

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