Saúde

O que erradicação da varíola humana pode ensinar contra varíola dos macacos

Em novembro de 1904, milhares de pessoas saíram às ruas do Rio para protestar, em uma insurreição que acabou tentando derrubar o próprio governo federal e que foi reprimida com violência.

Nas décadas seguintes, a vacinação avançou com altos e baixos no Brasil e no mundo, até a campanha global bem-sucedida ocorrer nos anos 1960.

Depois da erradicação mundial, o vírus da varíola humana ainda foi armazenado em laboratórios – e sempre circulou o medo de que ele pudesse ser usado como arma biológica contra populações mais jovens, que não estavam mais sendo vacinadas.

Por isso, a OMS e alguns países mantiveram estoques da vacina de primeira geração contra a varíola humana. E agora, diante do recente avanço da varíola dos macacos – que até este ano raramente era vista fora de países da África Ocidental e Central – fábricas de imunizantes já estão sendo acionadas para produzir vacinas para esses dois tipos de vírus.

A vacina da varíola humana é considerada de alta eficiência – 85% – contra a varíola dos macacos justamente porque os vírus são parecidos e estáveis, com poucas chances de mutação.

Outro ponto importante é que a varíola dos macacos é considerada uma doença muito mais branda do que a varíola humana. Sua taxa de mortalidade é estimada entre 1% e 10%, a depender da cepa do vírus e do tipo de paciente (crianças menores e com o sistema imunológico comprometido estão sob risco maior), contra uma mortalidade historicamente de 30% da varíola humana.

“O vírus da varíola foi muito perigoso, matou muito, (…) e era muito fácil de se contaminar”, afirma Fernandes.

Mas, com toda a devastação que ele provocou, seu controle acabou trazendo um aprendizado útil até hoje diante da varíola dos macacos: já conhecemos mais sobre as características da doença e do vírus que a causa, e também criamos estruturas mais robustas para enfrentá-lo, com vacinação e monitoramento de casos, no mundo e no Brasil.

“Com certeza o processo de erradicação da varíola e depois (de combate ao) sarampo deu corpo aos sistemas de notificação e controle das doenças e ao programa de imunização no Brasil”, diz Tania Fernandes.

Além disso, “havia uma vacina de eficácia muito grande, obrigatória, que teve uma aceitação razoável no Brasil. É importante registrar isso: o país tem (até hoje) uma cultura de vacinação muito séria”, afirma a historiadora.

 

Fonte: G1

https://g1.globo.com/saude/noticia/2022/05/30/o-que-erradicacao-da-variola-humana-pode-ensinar-contra-variola-dos-macacos.ghtml

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