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Após vacina, cai 71% o número de mortes entre os profissionais da enfermagem

O Observatório de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) registrou uma queda significativa no número de profissionais de Enfermagem mortos por Covid-19 no mês de abril, após o início da vacinação. Os óbitos, que vinham caindo no ano passado, explodiram de novo no começo de 2021, com a segunda onda da Covid-19. Chegaram a 83 em março. Em abril caíram para 24, numa queda abrupta de 71%.

“A queda revela a importância da vacinação e traz esperança aos brasileiros. Esta redução poderia ter acontecido antes, mas foi retardada pela segunda onda de Covid-19, com aumento da prevalência da doença”, avalia o coordenador do Comitê Gestor da Crise (CGC/Cofen), Eduardo Fernando Souza.

O Observatório de Enfermagem mantém uma base de dados alimentada pelos profissionais por meio de formulário próprio, criado pelo Cofen, que permite acesso às estatísticas geradas, podendo, inclusive, baixar os dados para realizar análises mais específicas.  A iniciativa possibilita ao órgão acompanhar melhor a situação da pandemia do novo coronavírus, buscar soluções que reduzam o risco de contágio e oferecer apoio aos profissionais de Enfermagem atingidos pela doença. O ponto negativo é que os dados, apesar de válidos, não são emitidos por unidades de saúde, o que pode incorrer em subnotificação de casos.

No início de junho, o Portal mostrou 56.230 casos de contaminação por Covid-19 entre profissionais de enfermagem notificados. O total de óbitos, atualizado em 3 de junho, foi de 788. O equivalente a 2,53% de letalidade em casos confirmados. Os estados com maior número de contaminação destes profissionais são: São Paulo (9.548), Bahia (6.563), Rio Grande do Sul (6.038), Rio de Janeiro (5.459), Santa Catarina (4.409) e Minas Gerais (3.725).  Já em número de óbitos: São Paulo (109), Amazonas (80), Rio de Janeiro (65), Mato Grosso (49), Rondônia (48) e Minas Gerais (45).

Ao fazer a análise mais profunda no perfil dos que contraíram a Covid-19, profissionais do sexo feminino somam 85,34%, enquanto 14,66% são do sexo masculino. Em uma categoria predominantemente feminina, o número de óbitos segue proporcionalmente, sendo 67,89% de mulheres contra 32,11% de homens.

Outro dado que chama a atenção está relacionado à faixa etária dos profissionais que foram contaminados pela Covid-19 e aqueles que morreram. São 23.318 casos entre 31 e 40 anos e 251 mortes em profissionais com idade entre 41 e 50 anos.

Para a enfermeira Cleide Mazuela Canavezi (SP), especialista em Gerenciamento de Enfermagem, esses números trazem à tona uma discussão que precisa ser aprofundada com urgência. “Os profissionais na linha de frente, normalmente, já enfrentam situações extremas de esgotamento físico e mental. A pandemia piorou o quadro com sobrecarga de trabalho, precariedade e falta de equipamentos de segurança individual, além de ausência de medicamentos para intubar pacientes. Inúmeros profissionais tiveram de abrir mão do convívio com seus familiares durante meses, por medo de infectá-los”, destaca.  Mazuela, que coordena a Câmara Técnica de Legislação e Normas (CTLN/Cofen), é enfática: “Falta o correto dimensionamento de pessoal. Ou seja, faltam profissionais de Enfermagem”.

O alerta já havia sido apontado em 2017 pela pesquisa Perfil da Enfermagem, realizada pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e patrocinada pelo Cofen. A pesquisa mostrou que o esgotamento dos profissionais de Saúde traria, a médio prazo, danos irreversíveis aos trabalhadores da área.

 

Por Flávio Liffeman

Jornalista

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